O maná de Deus é suave

O maná de Deus hoje foi maravilhoso.


O prazer e a alegria de fazer uma comidinha rápida, cheia de carinho, amor e sabor, foi indescritível. A provisão veio de Deus. Em todos os detalhes. Não faltou nada. Tudo na medida certa e com a "nossa cara" (minha e do Lipe). Sobre o maná de Deus. 

O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. As noites em que seus olhos choram abrem caminho para dias de alegria. Uma noite minha foi de angústia, outra foi de oração e fé, e essa noite foi de paz. Paz que veio como uma brisa suave e morna. Um carinho na alma.

Nunca desista num momento de crise. Reflita no versículo abaixo:

"Se te mostrares fraco no dia da angústia, é que a tua força é pequena". 
Provérbios 24:10

Um beijo a todos e uma Páscoa de renovo em todos os corações.

Não é fácil ter fé. É mais fácil dar ré.

Meu mundo se tornou mais difícil, mas não impossível. Me recuso a optar pelo caminho mais fácil. Não vou dar ré, isso não. Vou adaptar, contornar e inventar outra forma de realizar. 

Não é fácil:
> ter uma tontura constante e depender de condução lotada, sem lugar para sentar;
> abrir a geladeira por reflexo ou hábito e vê-la vazia;
> ver um filho comer apenas feijão, puro, sem nada mais;
> ver as contas que não param de chegar por debaixo da porta;
> digitar com as mãos que insistem em formigar;
> enxergar com os olhos cheios d´água;

Surgem as adaptações e a vida fica mais leve:
> evitar a condução lotada e ir a pé, escolher lugares alternativos, mais próximos de casa;
> economizar desligando a geladeira ou enchê-la de gelatina diet colorida;
> ver seu filho comendo o feijão, acompanhado de um lindo filé mignon estalado (o famoso ovo frito), o almoço vira banquete;
> organizar as contas, ligar nos fornecedores e negociar melhores preços e prazos;
> cuidar das mãos como manda o médico, tala e relaxante muscular para dormir, bolsa de gelo, alongamento e massagens durante o dia.
> secar as lágrimas e parar de chorar. a vida é bela demais para ser desperdiçada;

Mais fácil é dar ré, mas eu aconselho 
a orar e crer que Deus proverá tudo que for necessário na hora certa.

Tudo o que tem vida louve ao Senhor

Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu:

> tempo de nascer e tempo de morrer, 
> tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
> tempo de matar e tempo de curar, 
> tempo de derrubar e tempo de construir,
> tempo de chorar e tempo de rir, 
> tempo de prantear e tempo de dançar,
> tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, 
> tempo de abraçar e tempo de se conter,
> tempo de procurar e tempo de desistir, 
> tempo de guardar e tempo de lançar fora,
> tempo de rasgar e tempo de costurar, 
> tempo de calar e tempo de falar,
> tempo de amar e tempo de odiar, 
> tempo de lutar e tempo de viver em paz.

Eclesiastes 3:1-8 (nvi)

Quero fugir da minha alma

Alguém já desfrutou de uma paz plena, serena e tranquila? Me conte então como se faz para conquistar isso. 

Quando estava tudo bem, na luta diária e constante da vida, veio um tsunami e acabou com tudo. Sobrou o fôlego de vida, a fé, as amizades genuínas e o filho que motivaram uma reconstrução. Era hora de colocar a "casa" em ordem, arrumar, organizar, limpar, cuidar, fechar as brechas, consertar, reconstruir, fazer de novo e melhor. Vários foram os momentos de "repuxos" do tsunami. Repuxos que, a cada vez, tentavam derrubar o pouco que havia sido reconstruído. 

O espírito de medo é presente e latente. Medo de receber alta do INSS. Medo de ter os recursos negados. Medo de ser rejeitada profissionalmente. Medo de afundar nessa fatalidade que já virou adversidade. O medo é o estado emocional resultante da consciência de perigo ou ameaça. Ok, então o que sinto é medo mesmo.

Me sinto malhada, moída, torcida e retorcida. Os hematomas estão na alma.  Desde o avc me tornei vulnerável diante de tantas emoções e sentimentos. Nunca havia sentido de forma tão consciente a rejeição, o abandono, o preconceito, a crítica, a acusação, o desrespeito, o desinteresse. Mas também nunca havia sentido tão fortemente a mão de Deus. 

O resultado desse turbilhão é a exaustão. Me sinto cansada. Cansada de descobrir meus direitos e minhas limitações. Cansada de percorrer esse labirinto. Estou exausta. Exausta de tanto sentir. Exausta de pensar. Exausta dessa reconstrução, que mais parece uma obra falida e enferrujada. Estou exausta por tanto esforço. 

Quero correr pra longe, mas sem me cansar. Quero me entregar ao mar profundo, sem precisar respirar e ouvir o silêncio profundo. Quero fugir da minha alma e me esconder em Deus. Quero estar num lugar novo, sem medo, sem dor, sem perdas.


Imagem: morgueFile free photos

Boas novas

Como é bom poder compartilhar boas novas com vocês. Se acompanharam as postagens anteriores, vocês já sabem que eu recebi alta do programa de reabilitação do Hospital das Clínicas. O programa terminou, mas a reabilitação continua...

É isso mesmo. A partir da segunda-feira dia 18 de março vou iniciar uma nova modalidade de terapia. É a hidroterapia. Foi inesperada essa notícia. Eu pensava que meu reencontro com a água se daria no final de 2013 ou no início de 2014. Mas a boa nova chegou rápido. Meu reencontro com a água agora será frequente e contínuo. Continuarei a reabilitação através desta terapia no Hospital das Clínicas e de forma gratuita.

Um bem para a alma, mente e corpo

Outra novidade está nas oficinas terapêuticas que também vou começar a frequentar. Serão aulas de teatro e de expressão corporal. O teatro é uma atividade altamente benéfica no processo de reabilitação, pois é interativa, dinâmica e divertida; desencadeia a descoberta de novos dons artísticos e profissionais; proporciona o relaxamento; diminui a tensão e equilibra a respiração.


Teatro. Tudo de bom.

As aulas de teatro e expressão corporal ainda vão:
  • melhorar a habilidade da fala; melhorando o ritmo e o tom da fala e da voz;
  • melhorar a comunicação; 
  • melhorar a postura e a expressão fisionômica;
  • estimular e exercitar a memória;
  • ajudar nos problemas com a autoestima; 
  • favorecer o surgimento de novas amizades; 
  • proporcionar a espontaneidade e ajudar em problemas psicológicos diversos;

Tudo gratuito. Cheio de amor e carinho ao lado dos amigos do IMREA-Lapa.

Obrigada Deus!!!!!!!!!!!!!!

Aniversário

Há um ano atrás, no dia 10 de março de 2012, por volta do meio-dia eu comecei a sofrer um avc isquêmico de tronco.  Um mistério se iniciou em 
meu corpo, alma e espírito.


Algumas ações eu reaprendi a fazer, outras se mantiveram. 

Funções preservadas: 
Respirar, sentir, chorar, amar, abraçar, beijar. Escrever, pintar, ler, ouvir, sofrer, rir, falar e falar pelos cotovelos. 
Das atividades domésticas preservadas, eu conseguia: 
Lavar louça e organizar a casa, de forma muito lentificada mas conseguia.

Funções reaprendidas:
Andar, engolir, comer e beber. Tomar banho e fazer minha higiene sozinha. Bocejar. 
Das atividades domésticas reaprendidas, voltei a: 
Estender roupa, guardar louça, cozinhar e varrer.

Funções em fase de reaprendizado:
Coordenação, equilíbrio, nadar, gargarejar, ler com entonação, falar com expressão facial. 
Das atividades domésticas em fase de reaprendizado, ainda estou reaprendendo a: 
Limpar a casa (faço tudo picado e aos poucos).

Funções ainda não reabilitadas:
Cansaço, tontura, andar de bicicleta, dirigir, correr, trabalhar, patinar, velejar (windsurf), fugir de um boi, pular amarelinha e elástico,  mergulhar no mar, saltar de um trampolim, dar cambalhota, dar salto mortal na piscina, jogar basquete, handebol e ping pong...eu creio na restauração completa e eu fazia tudo isso.
Das atividades domésticas em fase de reaprendizado, ainda tenho que: 
Suportar passar roupa (minha dificuldade está em ficar muito tempo em pé).

Estou viva. Louvo à Deus por Ele ter me tornado esse milagre. Em todos os momentos Ele falou comigo, não me deixou. Sou testemunha da reconstrução de um ser humano.  Não estou somente viva; estou viva, feliz e ativa.

Obrigada meu Deus.


O abraço

Minha sexta-feira, dia 8 de março de 2013 foi mais um desses dias que costumam marcar. 

Foi o dia de encerramento da minha participação no programa de reabilitação do IMREA-Lapa do Hospital das Clínicas. Foram meses intensos, semanas intensas e dias intensos. Dias de limites testados, de novas emoções e de sentimentos abundantes. 


Não haveria melhor forma de terminar esse tratamento. 
Minha última terapia do dia foi um abraço. 

Isso mesmo, um abraço. Um abraço que simbolizou o cumprimento de toda uma jornada. Um abraço sim, de uma profissional, mas um abraço com alma de amizade. Um abraço que confirmou minha teoria de que é possível a humanização com amizade. Flor, você tem um dom maravilhoso.  

O mais simples e puro prazer

E o dia surge como uma brisa suave e morna


Acordar com o dia amanhecendo. 
Acordar o filhote com calma. 
Preparar um simples pão com requeijão e uma caneca de leite.

Água à flor da pele

Como foi bom conseguir dormir

Dormir bem e acordar melhor ainda

Finalmente depois de dois dias eu consegui capotar e dormir profundamente. Acordei feliz e tranquila. Consegui dormir e dormir pesado. Apesar de ter dormido no sofá, eu dormi!!!! Meu filho saiu pro colégio às 6h30 como sempre e ele me disse que eu estava "capotada". É bom demais conseguir dormir. Obrigada meu Deus.


Senti hoje um carinho na alma

Manhã com Deus

Assim que acordei, como sempre faço, além de toda a rotina normal, fui dar uma espiadinha nos emails e no face. Encontrei uma mensagem inbox pra mim de uma amiga de muitos e muitos anos atrás com um link de um vídeo. Ela mencionava na mensagem que se tratava de um vídeo de cura. Assisti o vídeo que tocou minha alma. As lágrimas escorreram como água. As imagens, a música, foi inexplicável. Fico muito grata a Deus que usou essa pessoa como instrumento para colocar essas cenas na frente dos meus olhos. Se alguém quiser saber mais sobre esse vídeo, peço que entre em contato comigo que eu mando o link.

Me reencontrei com a água

Água à flor da pele

Tive um almoço muito leve, tranquilo e saudável, na companhia de um grande amigo. Na sequência fui pra minha reabilitação que hoje teve uma novidade: hoje eu faria uma avaliação para o início de um novo tratamento. A hidroterapia. 

Desde bebê eu nadava. Sempre fui um peixinho. Nadei em todo tipo de piscina, grandes, pequenas, imensas. Aos 6 eu já fazia natação. Nadava em alto mar. Nunca tive medo do mar, mas sempre o respeitei. Enfim. Sempre amei a água.

Foi a primeira vez que entrei numa piscina depois do avc. Fiquei muito ansiosa e profundamente emocionada. Tive medo, receio. Me senti uma criança. As lágrimas não paravam de brotar. Eu soluçava como um bebê. Lembrei de todo um passado de contato com a água.

Hoje foi o dia que marcou meu novo ciclo de vida. Obrigada meu Deus pelo dia de hoje!!!!! Te amo por ter me mantido viva para sentir essa emoção.

Deus, quero voltar a nadar em alto mar e sentir a sua criação na minha pele.

Encerrando mais um ciclo

Minha reabilitação no IMREA-Lapa já está no fim. Esta será a última semana. É o fim de um ciclo, mas o início de outro. 

Chorei muito, desabafei, superei desafios, desafiei dores, desequilíbrios e tonturas, alcancei metas. Conquistei independência. Me conscientizei sobre minhas limitações. Mas a principal mudança foi o renovo da minha fé.


  Estação da CPTM quase dentro do IMREA                

São muitas as pessoas com problemas. Muitas são as dificuldades, angústias, depressões, tristezas. Mas constante não é a dor, é a busca por dignidade e cidadania. 

Sou grata a todos os profissionais que me atenderam. Grata aos que sempre tinham uma palavra de carinho, uma brincadeira. Obrigada a vocês, da coordenação de reabilitação, ao povo da recepção. Beeeeel...já estou com saudade de você, flor. Vai cuidar desse olho!!! 

Agradeço a minha fisioterapeuta Caroline Fioramonte que testou meus limites e me mostrou o que é um profissional criativo. O enfermeiro Jefferson Jr que marcou pela amizade, cumplicidade e empatia. A fisiatra Tamira Terao que me transmitiu segurança e paz nos diagnósticos. O que dizer então da minha psicóloga, Camila Vasco, que entrou pela porta da minha alma. 


Corredor de entrada do IMREA-Lapa

Desde que minha alta foi anunciada, venho pensando nessas pessoas. Nos amigos que fiz, nos carinhos que recebi. A cada gesto no meu dia a dia, seja de estender roupa no varal ou guardar uma louça, lembro da minha TO, Thais Bastos. Quanta paciência ela teve.

A sensação é de ser expulsa de um ninho, de ter a certeza da queda. Não consigo mais dormir e quando durmo tenho pesadelos. Agora por exemplo, já são 6h40 da manhã e não preguei o olho. O dia está claro e meu filho já está pronto para a escola. 

Não sei se é pânico ou pavor; pavor da rejeição, do desemprego, de ser cobrada por algo que não posso dar. Pavor de ficar sem renda, de não conseguir sustentar o filhote, de perder a carreira que construí durante 18 anos. Esse é o sentimento, mesmo com o apoio da Harumi, Danielle e Camila que tentaram me acalmar.   

Eu precisava diminuir o ritmo. Mas deixei a carreira falar mais alto. Alimentei um monstro e hoje sofro as consequências. Fiquei com sequelas sim, fiquei lentificada, mas quem olha pra mim não nota nada. Sou deficiente física pela lei e tenho dificuldades de deficiente, mas não tenho aparência de deficiente. Já quiseram me expulsar de um banco no metrô, já quiseram me retirar de uma fila no banco. Já fui abordada por fiscais no metrô. Já fui questionada por cobradores em ônibus. Já fui humilhada no INSS e em posto de saúde.


Área interna do IMREA-Lapa. Área da fisioterapia.

Muitos medos tive de enfrentar e até agora superei todos. Medo de faltar dinheiro, de geladeira vazia, de solidão. Medo de cair, de passar vergonha, de chorar em público. Muita coisa já passou, a onda do tsunami já foi, mas agora sinto o repuxo...acho que é pior.

Sou e estou ativa, apesar de não me sentir assim. Fui tão bem cuidada e protegida quando fiquei no hospital, no HC. Desfrutei de ambientes tão calmos e de bem estar, que agora tenho pânico da multidão no metrô, do empurra empurra, de lugares lotados. Há alguns dias me aventurei na Ladeira Porto Geral. 

Lembrarei com carinho de profissionais como a Laís e a Marina, que me proporcionaram orientações na área de fono e nutrição (respectivamente). Orientações que continuarei seguindo creio que por muuuuuito tempo. 

E por fim, a despedida mais cruel. O adeus ao povo do condicionamento físico. Léo, Lê, Cris, Mamão, Susana. Pessoas que acreditam na superação de limites, que acreditam sempre e de forma inabalável no resultado positivo. Como pode haver um pessoal assim tão positivo? Nunca havia conhecido isso.

Sempre me relacionei bem por ondei passei. Mas poucas pessoas ganharam meu coração, minhas orações, meus pensamentos. Da minha parte o IMREA-Lapa virou uma família. Mas sei que do lado de lá não é bem assim. Tem profissionalismo envolvido. Mas creio, que esse lugar é um ser vivo. Esse adeus é cheio de esperança, de que dentro da chamada humanização, bate um coração amigo e vive uma alma genuína.