O AVC

Meu principal objetivo é poder escrever sobre as experiências que vivi, sentindo na pele, na alma e no espírito, sensações e emoções. Talvez o simples relato de algumas delas possa contribuir com algumas vidas.

Um dia antes do AVC
Era dia 9 de março de 2012, uma sexta-feira de trabalho normal. Houve na empresa uma mudança de espaço físico, no final da tarde. Mudei de mesa e na medida do possível procurei deixar os espaços em ordem.

Nos últimos dias eu andava produzida, maquiada, perfumada e ainda de olhos verdes escuros. A auto-estima estava em alta. A rotina de beleza em casa, durante todas as manhãs, estava preservada. Meu filho saia para a escola às 6h30.

No final do dia meu celular toca. Eu já sabia que ele tocaria. Sabia que era um homem mega charmoso do outro lado da linha. Era o José. Uns 22 anos mais velho. Culto, inteligente, gentil, cavalheiro, um doce. Nos conhecemos pela internet. Conversamos por muuuiiiitttto tempo.

Combinamos de nos encontrar após nosso dia de trabalho. Cavalheiro, José foi me buscar. Ficamos andando de carro pelo trânsito da cidade...ouvindo músicas antigas e conversando...quando passamos por uma rua tranquila, José parou o carro e me beijou apaixonadamente....Há tempos não me sentia assim...simplesmente mulher.

Uns 20 minutos depois eu já estava em casa com meu filho. Era cedo. Umas 20h. Eu sempre chegava tarde, mas naquele dia fora do comum eu já havia trabalhado, visto os colegas de trabalho, já tinha até namorado (à moda antiga) e estava em casa curtindo um filme na sala de tv, com meu filhote. Eu e meu filho acabamos adormecendo.

Dia 10 de março de 2012 - O Dia "D".
Era bem cedinho e o filhote já estava em pé. Ele me acordou e avisou que sairia para pesquisar preços de baixo e guitarra, o sonho dele. Ele tomou o café da manhã e dividiu um pão comigo. Eu ainda estava bem.

Acordei com uma baba gelada na bochecha...eca. Nunca babei!! Iria babar agora depois de velha? Virei a almofada do outro lado e voltei a dormir. Pouco depois acordei novamente, com uma nova baba na bochecha...Eu já estava com dificuldade para engolir...era a hora do almoço e meu filho já estava de volta. Pedi que ele buscasse o nosso almoço. Ele foi rapidinho...mas eu não consegui engolir....estava completamente tonta...o apartamento rodava...e eu já havia vomitado.

Tomei a decisão de me vestir e ir ao hospital. Quando eu estava me vestindo senti o lado esquerdo do corpo gelado. Sabia que era um AVC. Pedi ao meu filho que chamasse um táxi. A vontade de vomitar vinha novamente.

Meu filho, o zelador do prédio e uma moradora me ajudaram até o táxi. Ao chegar ao pronto-socorro do Samaritano, uma conclusão: Emergência e uma determinação: Internação na UTI. Era o começo de uma linda história de amizade, amor, bem-estar e reconstrução do meu ser.


Imagem: internet